Enjoos matinais

não posso deixar de me engasgar com os autênticos fenómenos sociais dos tempos modernos. hoje ao dirigir-me para o escritório e mesmo com alguma pressa, não pude deixar de reparar nos mupies da nova campanha do BPI: uma fotografia a preto e branco, com pretensões a transpirar o glamour que só as pessoas elegantes e com dinheiro podem aspirar, de várias personalidades da nossa 'feirinha' de vaidades, acompanhada pelo slogan "GANHE COMO NÓS". engasguei-me, não pela comoção ao imaginar-me com a conta reacheada e sabe Deus de quê, mas pela falta de gosto, pelo desrespeito às pessoas que todos os dias apanham o autocarro naquelas paragens às seis da manhã para chegar aos seus empregos às nove e irem buscar os filhos às sete para lhes dar jantar às oito. francamente; será possível que se tenha perdido a noção do que, mais que apenas ridículo, é a usurpação do bom senso?! será esta a estratégia do BPI para fazer frente à OPA lançada pelo BCP? meus caros, a vida não se vive nos intervalos publicitários!

outra catástrofe, essa sim, lamentável e rodeada de porquês, foi a morte do actor Francisco Adam. confesso que gosto de morangos e de vez em quando, deitava-lhes uma pitada de açucar; achava piada imaginar-me outra vez no liceu a ser uma adolescente insuportável e sem que ninguém se chateasse com isso. curiosamente, ele era uma das personagens que mais me atraía - não só pela embalagem mas pelo charme que se antevia para além do personagem. fiquei chocada quando soube do sucedido, e por mais que se queira pensar nos outras tantas centenas de jovens de 22 anos que morrem todos os dias nas nossas estradas, não há como substimar o desaparecimento de alguém que quase nos fazia esquecer um dia de trabalho chato e cheio de problemas (também esses pautados por borbulhas da adolescência). li há pouco num jornal diário que o funeral foi "televisionado em exclusivo pela TVI, certa da subida de audiências". não sei se me faz pena ou me irrita a leviandade com que algum jornalista aceita escrever semelhante barbárie, ainda mais com honras à verdadeira mensagem implícita sobre os valores mais altos que se levantam, como "a verdadeira tristeza pela morte do novo James Dean português (...)".

sinceramente, dá-me vómitos.