assim de repente apetece-me cantar:
"mãe querida, mãe querida
o melhor que agente temmmmm
não há outro amor na vida
igual ao amor de mãeeeeeee"
...porque se não fosse ela eu tinha morrido! desfalecido. definhado, entre o pulmão que quase me sai pela garganta e o ranho verde da especturação. numa sauna que não embeleza a pele. maldita gripe que desde sábado até então cozinhou os meus miolos em temperaturas escaldantes. maldito e irritante pingo no nariz que consumiu por si só 6 pacotes de lenços de papel Cien. maldito cabelo amassado e pessonhento que nem o novo corte no cabeleireiro lá das bandas do sapato me valeu. maldito e decadente o cheiro dos lençois já há dias a conservar-me, sem que me apetecesse mudar de posição. e tudo isto a combinar com a palete de cores da minha cara - amarelo, branco e cinzento. pior que a noiva cadáver, que ao menos era sexy. estar de cama com gripe não é propriamente um cenário agradável e é por isso mesmo que eu dispenso grandes movimentações em meu redor. fico com o pior dos humores e só me apetece dizer mal da vida, não consigo concentrar-me em nada que não a minha dor, a prostração que os malvados xaropes e Aulins e BenUR, o herói da gripe! obrigam, como se andasse pedrada mas sem ser com droga, entes fosse, droga daquela droga que faz rir. até do emprego fico com saudades, das longas filas para entrar na 2ª circular, do mau-humor dos colegas, das chatices com o dinheiro que não é meu, enfim. estava mesmo a arder em febre. depois comia e dormia. e depois pensava e ainda pensava mais porque há tempo para pensar em tudo ainda mais do que é normal. deve ser provavelmente a única altura das nossas vidas em que queremos que o tempo passe, passe muito. e rápido. e ele - filho de outra mão qualquer - passa lento. muito lento. quando estou doente sinto que devia ser o centro do mundo. está a nevar?! quero lá saber! e eu, e eu??!! - até pareço um gajo a falar. mas eu admito, sou tão piegas quanto eles quando estou na cama contra a minha vontade. e com a maldita da gripe.
além de gripe padeço sempre de uma enorme solidão. não há alma caridosa que nos faça um telefonemazito a saber como estamos. mesmo que seja de circunstância. mesmo que não tenha mais nada para fazer. mesmo que seja no intervalo da aula de ginástica ou na fila do supermercado. mesmo que tenha de pedir dinheiro emprestado para carregar o telemóvel. não há ninguém que nos venha alegrar o dia cinzento. ninguém se lembra. está tudo ocupado na vida do dia a dia. e o pior é quando tentamos ligar e não nos ligam de volta, pensando "agora não tenho tempo, já ligo"- e de intenções está o inferno cheio. eu sei que sou um bocado lamecha com estas coisas. oh pá pois sou. e só não sente quem não é filho de boa gente e eu sou. mas eles também sabem, e nem por isso me fazem a vontade. olhem lá, custava muito dar um alôzinho, custava?...
por tudo isto e MUITO MAIS, impõe-se uma menção honrosa à minha mamã. chamem-me menina da mamã quantas vezes quiserem, mas o que é certo é que não há ninguém no mundo que, até mal cheirosos e sem lavar os dentes há dois dias, se inclina e nos dá um beijo na testa. ouve as nossas resmunguices e cozinha o nosso prato preferido para comermos um pouco mais de nada. que mesmo em silêncio me deu esse 'quentinho' que eu precisava. que mesmo longe da minha vista, as paredes da casa denunciavam. e que no final do dia, antes de fechar a porta para ir para casa dela, me espreitava até à última nesguita, e perguntava:
"queres que fique mais um bocadinho?"