Xikipedia

Xikipedia (pronounced as either "cheek-ee-peedia or chick-ee-peedia") is a multilingual, web-based, free-content "pedia thingy", written collaboratively by errr... volunteers? Welcome to the world of "Xi!" (pronounced "chee").


Tuesday, September 26, 2006

The Pillowman


há muito que não saía de uma sala de teatro arrepiada. como se cada uma daquelas palavras ficasse em banho maria no meu cérebro porque mais tarde, mais tarde, tenho de ter tempo para voltar a pensar bem nelas, todas, dissecá-las uma por uma, descobrir-me. descobrir tudo, todos, a vida e o que ela quer dizer. o ser humano é fascinante, ao mesmo tempo que me causa repulsa pelas suas, nossas contrariedades. somos maus porquê? somos bons porquê? o que é ser mau ou bom? o que há por detrás das intençõs que escondem outras intenções? que conceitos são estes que nos regem às normas e ao mesmo tempo, quase que podiam justificar as nossas atitudes? li a estória do escritor e do irmão do escritor que entregaram no fim e tentei colar pedaços, activar a memória e lembrar-me do que me disseram todos os sentidos a cada segundo do desenrolar da acção. mas a estória dos dois irmãos confundiu-me ainda mais. e deixou-me inquieta, como se a sentisse tão próxima. dois irmãos e dois polícias. marcas de infância, sentimentos e emoções à flor-da-pele. algo a esconder, mas que é sempre denunciado por um gesto ou uma palavra. estórias infantis e suicídio. porquinhos verdes e homens-almofada a representar o fim do princípio do sofrimento. vão ver. é terrífico e maravilhoso.

Interpretação: Albano Jerónimo; Gonçalo Waddington; João Pedro Vaz; Marco D’Almeida.

Em cena de 07-09-2006 a 15-10-2006
4ª a sáb. 21H30 dom. 17H
encenação de Tiago Guedes

10 Comments:

At 27.9.06, Anonymous Anonymous said...

A peça é muito boa. O texto é excepcional e os actores e o encenador não o estragam. Também recomendo vivamente!

Já agora, "estória" não existe na língua portuguesa. Em inglês é que há a distinção entre "history" e "story" e daí tendência - errada - para a transpôr para português.

 
At 27.9.06, Blogger Spirale said...

Já agora...

...in Prontuário Ortográfico:

Não existe diferença significativa entre os vocábulos “estória” e “história”, que partilham a mesma etimologia (do grego ‘historía’).

Contudo, “estória” é a grafia antiga de “história” que, entretanto, caiu em desuso no português falado em Portugal.

Por conseguinte, este vocábulo não aparece registado nos mais recentes dicionários de língua portuguesa editados em português de Portugal.

Porém, ainda o podemos encontrar no Michaelis. Moderno Dicionário da Língua Portuguesa, editado em São Paulo (em 2002), com um significado diferente de “história”.

Estória (segundo Michaelis):

1) Narrativa de lendas, contos tradicionais de ficção.

*estória em quadradinhos = série de desenhos, em uma série de quadros, que representam uma estória, com legendas ou sem elas.

**estória da carochinha = conto da carochinha

*** estória do arco da velha = coisas inverosímeis, inacreditáveis.

**** estória para boi dormir = conversa enfadonha, com intuito de enganar.

***** deixar-se de estórias = evitar rodeios, indo logo ao ponto principal.

No que se refere aos dicionários mais recentes editados em Portugal, todas as acepções supra-referidas são parte integrante da entrada “história”.

História

1) Narração ordenada, escrita dos acontecimentos e actividades humanas ocorridas no passado.

2) Ramo da ciência que se ocupa de registar cronologicamente, apreciar e explicar os factos do passado da humanidade em geral, e das diversas nações, países e localidades em particular.

3) O futuro, considerado como juiz das acções humanas (ex: A história o julgará.)

4) Biografia de uma personagem célebre.

5) Exposição de factos, sucessos e particularidades relativas a determinado objecto digno de atenção pública.

6) Narração de uma aventura particular.

P.s.: É de referir que o vocábulo "estória" consta no Dicionário de Língua Portuguesa de 2004 da Porto Editora, como sendo «s.f. história de carácter ficcional ou popular; conto; narração curta (De história, ou do ing. story, «id»)».

 
At 27.9.06, Blogger zorg said...

>>Contudo, “estória” é a grafia antiga de “história” que, entretanto, caiu em desuso no português falado em Portugal.
---
Tenho muitas dúvidas em relação a este ponto. Ao que sei "estória" está presente nalguns documentos medievais como variação fonética de "história", sem qualquer alteração de sentido.

Parece-me mais lógico que o facto de "estória" existir em português do Brasil, tenha a ver com a assimilação do inglês "story" (como acontece, por exemplo, com "estoque", que resulta da assimilação do inglês "stock") do que com a preservação de qualquer eventual arcaísmo. E digo isto porque em português do Brasil, os dois vocábulos assumem significados distintos, tal como acontece em inglês e não acontecia no português medieval. Para além disso, que eu saiba, nenhuma das línguas latinas faz a distinção entre os conceitos.

 
At 27.9.06, Blogger Spirale said...

in Wikipedia:
"Estória - Neologismo proposto por João Ribeiro em 1919, para designar, no campo do folclore, a narrativa popular, o conto tradicional. Alguns consideram o termo arcaico, mas ele se difere claramente de "história", pelo primeiro ser algo inventado e o segundo algo verídico."

in Prontuário Ortográfico:
"(...) a diferença de significado entre os vocábulos "história" e "estória" é reconhecida no Brasil devido a Guimarães Rosa, escritor brasileiro que criou vários neologismos. Sua influência foi tão grande, que "estória" assumiu o significado formal de mito (em contraposição à concepção factual, ou verídica, de "História"). A sua inspiração, veio das palavras inglesas "history" e "story"."

...além disso no P.S. do último comentário afirmo "...que o vocábulo "estória" consta no Dicionário de Língua Portuguesa de 2004 da Porto Editora, como sendo «s.f. história de carácter ficcional ou popular; conto; narração curta (De história, ou do ing. story, «id»)..." Do inglês "Story"...

 
At 27.9.06, Blogger Spirale said...

E segundo o Prof. Cláudio Moreno, para "arrumar" a questão (http://www.sualingua.com.br/08/08
_estoria.htm):


A história de "estória"

Perdi a conta dos leitores que me perguntam sobre a famigerada estória. Uns querem saber se realmente existe essa distinção entre estória e história. Outros teriam ouvido que a palavra existiu outrora, mas hoje seria considerada arcaica. Há quem especule que estória tenha nascido de um erro de tradução. Quase todos perguntam se é uma distinção útil e necessária, ou se não passa de supérfluo balangandã. Peço perdão àqueles que fiz esperar, mas aqui vai minha resposta a todos.

Foi João Ribeiro, forte conhecedor de nosso idioma, quem propôs a adoção do termo estória, em 1919, para designar, no campo do Folclore, a narrativa popular, o conto tradicional, objeto de estudo dos especialistas daquela área. E não se tratava de inventar, mas sim de reabilitar (hoje usariam o horrendo resgatar...) uma forma arcaica, comum nos manuscritos medievais de Portugal. Era uma ingênua proposta, paroquial, nascida da inveja compreensível que causa a distinção story - history do Inglês; sem ela, alega o próprio Luís da Câmara Cascudo - para mim, um dos escritores que mais contribuíram para nossa língua -, não se pode entender frases como "Stories are not History", ou títulos como "The History of a Folk Story". Que o mestre Cascudo me perdoe: a intenção era boa, mas sem nenhum fundamento lingüístico.

Em primeiro lugar, a estória medieval não era um vocábulo diferente de história; era apenas uma das muitas variantes que se encontram nos textos manuscritos de nossos copistas, naquele tempo heróico em que a estrutura de nossa ortografia ainda lutava para sedimentar. Ali aparecem história, hestória, estória, istória, estórea (ainda não se usavam os acentos, que são de nosso século, mas não pude resistir). Da mesma forma, vamos encontrar homem, omem, omee (algumas vezes com til no primeiro e) e até ome. Nota-se que o emprego do "h" e das vogais ainda não estava estabilizado na escrita. Entretanto, já no séc. XVI - em Camões, por exemplo - a grafia de homem e história era a que é usada até hoje. Outras línguas da família latina, como o Espanhol e o Francês, também experimentaram essa variedade de formas para história, mas terminou prevalecendo a forma única (historia e histoire, respectivamente).

Em segundo lugar: grande coisa se o Inglês pode fazer a distinção entre story e history! E daí? Como o folclórico Napoleão Mendes de Almeida nos lembra, eles também distinguem entre can (poder, conseguir) e may (poder, no sentido legal e ético): "You can, but you may not" é uma rica frase em Inglês que só poderíamos traduzir com um aproximado "Você pode, mas não deve". Esse autor, que abominava estória, pergunta ironicamente: "Se curtos de inteligência foram nossos pais em não terem descoberto essa história de "estória", curtos de inteligência continuamos todos nós em não forjarmos distinção gráfica e fonética para "poder", para "educação", para "raio", para "oficial" e para outros vocábulos de formas diferentes em Inglês, como curtos de inteligência são todos os outros idiomas que têm palavras com mais de uma significação".

Dessa vez Napoleão bateu no prego e não na tábua. Uma olhada no meu Oxford e me dou conta que para nosso raio, por exemplo, o Inglês tem (1) ray (onde temos "raio de luz", "pistola de raios"), (2) radius (o "raio de um círculo") e (3) lightning (a "descarga elétrica"). É mais do que comum o fato de uma língua fazer distinções vocabulares que outras não fazem. Como tive a oportunidade de mencionar em outro artigo (Atravessando o Canal da Manga), o Espanhol designa com um único vocábulo (celo, celos) o que nós distribuímos por três: zelo, cio e ciúme. Invejamos o story do Inglês? Eles então devem ficar verdes diante de nosso ser e estar, distinção fundamental na vida e na Filosofia, que eles simplesmente desconhecem. Assim são as línguas humanas, na sua (im)perfeição.

Além disso, os amáveis folcloristas que defendiam estória pensavam apenas em distinguir "a História do Brasil das Histórias da Carochinha". Do ponto de vista lingüístico, erraram por todos os lados. Primeiro, erraram porque essa não é uma distinção útil, que justifique sua defesa. O português José Neves Henriques, o severo e consciencioso JNH do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa (já falei sobre ele na seção de Links), condena essa invenção "brasileira" (ele tem razão: é coisa nossa), tachando-a de "uma palermice, porque, até agora, nunca confundimos os vários significados de história. O contexto e a situação têm sido mais que suficientes para distinguirmos os vários significados". Certo o professor Henriques, errados os folcloristas: ninguém vai confundir a história de um país com a história do bicho-papão.

Segundo, erraram porque enxergavam apenas dois pólos bem definidos: a história que se refere ao passado e ao seu estudo, e a estória da narrativa, da fábula. A experiência nos diz que essas invasões de searas alheias geralmente pecam por um raciocínio simplista, reducionista. Quem mexe no que não entende, termina fazendo bobagem... e não deu outra. Nossos estudiosos não perceberam que a distinção sugerida, apetecível do ponto de vista deles, acabaria criando incertezas e hesitações em frases corriqueiras como "Deixa de histórias!"; "Essa já é outra história"; "Que história é essa?"; "Eu e ela temos uma velha história". Qual das duas formas usar? Por tão pouco benefício, por que assombrar ainda mais os que escrevem em Português? Faço questão de frisar "os que escrevem" - porque aqui, também, reside outra falha da proposta de João Ribeiro: as duas formas não seriam distinguíveis na fala, já que a realização da vogal "E" inicial de estória é geralmente /i/ (como em espada, esperto, etc.). Ambas seriam pronunciadas da mesma maneira: /istória/. E quantas outras palavras, derivadas de história, deveriam ser alteradas? Historieiro? Historiento? As historietas passariam a ser estorietas? Os aficionados em quadrinhos passariam a usar EQ em vez do consagrado HQ? Como se vê, "muito trabalho por nada", como reza a comédia de Shakespeare.

De qualquer forma, o uso de estória poderia ter ficado confinado ao mundo do Folclore, onde talvez fosse de alguma utilidade. Afinal, não é incomum que certas áreas do pensamento postulem, para uso exclusivo, vocábulos novos ou variações fonológicas ou ortográficas de vocábulos antigos, no afã de obter maior precisão em seus conceitos. Isso se verifica, por exemplo, na Filosofia, na Lógica, na Lingüística, na Psicanálise (onde me chama a atenção a impressionante inquietação lingüística dos lacanianos). Como é natural, essas variantes vão fazer parte de um código específico, cujo emprego passa a ser indispensável para os especialistas dessa área, mas não entram no grande caudal da língua comum. A criação, a utilização e, muito seguidamente, a agonia e morte dessas formas são registradas em discretos dicionários especializados, convenientemente isolados do grande rebanho representado pelos dicionários de uso.

Infelizmente, como nos piores pesadelos dos ecologistas, estória rompeu as cercas de segurança, saiu do pequeno rincão do Folclore e invadiu nossas vidas. O responsável por isso foi João Guimarães Rosa (pudera não!). Como escreve meu mestre Celso Pedro Luft, com uma ponta de inesperada ironia, Rosa decidiu "glorificar, imortalizar a ausência do agá: Primeiras Estórias. Corriam os anos de 1962. Primeiras estórias ... todos os fãs do mineiro imortal ficaram absolutamente alucinados. E foi estória para cá, estória para lá, estória para todos os lados. Uma epidemia. Perdão, uma glória". Depois, em 1967 veio Tutaméia, com o subtítulo "Terceiras Estórias", e o póstumo Estas Estórias, publicado em 1969. Muito tem sido escrito sobre a inovação da linguagem rosiana; a sintaxe de seu narrador é, a meu ver, a criação literária do século. No entanto, sou obrigado a observar que, em termos não-literários, essa inovação é zero. Nenhuma das palavras montadas, deformadas ou inventadas por ele jamais será usada, a não ser por imitadores (que já andam escasseando...). É uma linguagem só dele; funciona admiravelmente no universo de sua obra, mas é seu instrumento pessoal, e nunca será nosso. Ouso dizer que a única influência rosiana no Português foi a divulgação desse equívoco que é estória. Tenho certeza de que Guimarães Rosa, místico de quatro costados, entenderia: deve ser vingança dos deuses da Língua.

 
At 28.9.06, Blogger zorg said...

Resumindo: estória é brasileiro, importado do inglês.

 
At 28.9.06, Blogger Spirale said...

Errr... Pois! Mas eu vou tentar ver a peça hoje para ter a certeza. ;-)

 
At 29.9.06, Blogger Spirale said...

E já está. Fui ver a peça hoje. E só posso dizer que os vossos comentários elogiosos acabaram por ficar aquém da qualidade revelada pela peça. Achei francamente excepcional.

Em termos cénicos é do melhor que tenho visto. Os actores e respectivas interpretações estão óptimas, e o texto, a "história", o enredo, é do melhor. A encenação está ao mesmo nível. Torna-se tudo numa experiência subliminarmente catita. Tem sumo. Muito sumo.

Lembrei-me do Tim Burton, do Se7en, da Paula Rego, misturados com as Nursery Rhymes inglesas e carregadas de ironia, sarcasmo e inteligência.

Globalmente é sem dúvida das melhores peças de teatro com a qual tive o prazer de me cruzar nos últimos tempos. E só não digo peremptoriamente que é a melhor, porque tenho receio que a memória me atraiçoe. Mas se não é, está lá pertinho.

Vão ver.

 
At 29.9.06, Blogger boneca said...

é mesmo excepcional - ainda hoje não consigo parar de pensar num pormenor ou outro, que me surge, assim... como se estivesse estado sempre à espera dele.

 
At 29.9.06, Blogger Spirale said...

É bom sinal quando passados uns dias uma pessoa ainda mastiga e desfruta a história. Hoje ainda me lembrei do "Of mice and men" do John Steinbeck. Enfim, se fosse fruto de pastiches a coisa não deixaria de ser interessante. O curioso é que vai para além disso. Muito para além disso.

 

Post a Comment

<< Home